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Interior da antiga CESACA 1975-1980 / Fonte Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina

Antes que o carvão moldasse a identidade de Criciúma, as primeiras iniciativas industriais surgiram da necessidade dos colonizadores italianos em transformar a produção agrícola em sustento. Hoje, um século depois, essa vocação empreendedora faz da cidade um dos principais polos econômicos e industriais de Santa Catarina e também explica seu crescimento populacional, resultado direto da força do trabalho.

 

As primeiras indústrias e negócios da cidade

Muitos negócios surgiram ainda nos primeiros anos da colonização. Eram iniciativas modestas, mas que garantiam a sobrevivência das famílias e marcaram o início da vocação industrial e comercial do município. As primeiras indústrias eram movidas pela força da água, aproveitando a energia dos riachos e córregos da região para acionar moinhos e engenhos, que serviam tanto à produção de alimentos quanto às primeiras atividades de transformação.

Atafona – As atafonas eram pequenos engenhos movidos pela força da água, usados para triturar o milho e transformá-lo em farinha, alimento essencial na mesa dos colonizadores. A primeira de Criciúma foi instalada por Benjamin Bristot, na década de 1900, na região onde hoje se cruzam a rua Henrique Lage e a rua Anita Garibaldi.

Para preservar essa memória, no Parque do Imigrante funciona atualmente uma atafona construída como símbolo da primeira indústria da cidade. Já as antigas pedras de mós do engenho do Sr. Benjamin Bristot, estão expostas na Praça do Imigrante, na rua 06 de Janeiro, centro de Criciúma.

Monumento ao imigrante com destaque as pedras de moer utilizada na primeira indústria

Engenhos de Açúcar – Os engenhos de açúcar foram pequenas indústrias criadas pelos colonos agricultores para garantir sustento e alguma renda. Um dos primeiros foi o de Ângelo Benedet, erguido em 1910, próximo ao atual Hospital São João Batista, onde funcionou por cerca de dez anos. Depois, passou a Augusto Casagrande, que o transferiu para perto do atual estádio do Criciúma Esporte Clube, mantendo a produção por mais sete anos. Mais tarde, o engenho foi adquirido por Domingos Darós, que, ao lado dos filhos Antônio e João Darós, mantiveram a produção por cerca de 15 anos na localidade do Verdinho.

Sr. Antônio Darós ao lado das peças de seu engenho. Atualmente, o conjunto está exposto na Unesc.

Comércio ao redor da Praça – Enquanto as primeiras indústrias surgiam, os colonizadores também organizavam os primeiros comércios ao redor da atual Praça Nereu Ramos. A venda de gêneros básicos, ferramentas e tecidos movimentava o espaço central, que logo se transformou em ponto de encontro, circulação e negócios. Foi ali que Criciúma começou a dar seus primeiros sinais de vida urbana e econômica.

Comércio da Rua João Pessoa, hoje calçadão da Praça Nereu Ramos – década 1950

Outras atividades pioneiras

Alambique – O primeiro foi de Giovanni Batista Milanese, no Rio Maina.

Fábrica de Cerveja – A primeira surgiu em 1909, fundada por Frederico Minatto. Anos depois, Cincinato Naspolini montou uma fábrica de bebidas na Operária. Mais tarde, o negócio foi vendido a Ângelo Peruchi, que o manteve em atividade com os filhos Giacomo e Amélio.

Olarias – Produziam tijolos e telhas, abrindo caminho para a futura indústria cerâmica.

Fábricas de Banha – Uma das pioneiras foi de Marcos Rovaris, em 1920.

Engenhos de Farinha – Espalhados pelas comunidades, processavam mandioca e fortaleciam a vida comunitária.

 

Os primeiros serviços de Criciúma

Além das pequenas indústrias, os colonizadores organizaram os primeiros serviços essenciais:

Correio – O primeiro agente foi Pedro Benedet, auxiliado por Davide Carlessi. Quinze anos depois, Roberto Maier assumiu como funcionário remunerado.

Açougue – O pioneiro no ofício foi Domingos Casagrande, seguido por nomes como João Cechinel e Porphírio Rovaris.

Farmácia e Saúde – A primeira farmácia foi de Jacinta Piazza, também parteira, ao lado de Lúcia Miloli, Úrsula Colombo e Luiza Becker. O primeiro médico foi o dr. João Assanger.

Profissionais Diversos – Entre eles, o dentista Leandro Martignago, o sapateiro Lorenço Conti (seguido dos irmãos Gaidzinski e de Elias Sprícigo), e o fotógrafo João Sbruzzi, sucedido por Faustino Zappelini.

Assim, além das indústrias, Criciúma se estruturava com comércio, saúde, correio, açougue, farmácia e serviços variados, formando as bases de uma cidade em crescimento.

 

A chegada da era do carvão

Depois das primeiras indústrias artesanais, Criciúma viveu sua grande virada com o carvão mineral. No início, era explorado de forma rudimentar pelos colonos, mas em 1913 com a fundação da Companhia Brasileira Carbonífera de Araranguá (CBCA) iniciou a extração organizada.

Extração de carvão mineral da Companhia Brasileira Carbonífera Araranguá (CBCA), 1917.

Em 1920, nascia a Carbonífera Próspera S.A., um marco da industrialização local. Com estrutura mais organizada, a empresa construiu uma usina elétrica própria, inaugurada em 1943, cuja imponente chaminé permanece como símbolo na atual Praça da Chaminé.

As mineradoras deram emprego a centenas de trabalhadores e consolidaram o carvão como motor da economia.

Vista parcial das instalações da Carbonífera Próspera S.A. - década de 1950

O carvão não apenas garantiu energia, empregos e a chegada da ferrovia, mas também transformou Criciúma na “Capital Brasileira do Carvão”. Mais do que uma atividade econômica, foi o motor que atraiu emigrantes de várias regiões do país e impulsionou o crescimento populacional: de cerca de 8,5 mil habitantes em 1925, para 50 mil em 1950, ultrapassando hoje os 225 mil habitantes.

Mineração de carvão em Criciúma- 1938.

De cidade do carvão a polo industrial diversificado

O ciclo produtivo do carvão abriu caminho para a diversificação produtiva. Ao lado das minas, cresceram olarias, serrarias, metalúrgicas e as primeiras confecções, consolidando a base que prepararia Criciúma para se tornar um verdadeiro polo industrial de Santa Catarina.

A partir da década de 1950, a indústria ganhou força e transformou a cidade em referência nacional, consolidando-se como polo de emprego e inovação. As olarias deram lugar às fábricas de pisos e revestimentos, formando a base da atual indústria cerâmica, impulsionada por pioneiros como Diomício Freitas, Maximiliano Gaidzinski, Jorge Cechinel entre outros empreendedores visionários.

Nos anos 1960 e 1970, o setor têxtil ganhou força em Criciúma, empregando milhares de mulheres e abastecendo mercados regionais. A diversificação industrial também trouxe o fortalecimento da metalurgia, moveleira e de plásticos. Nesse período, merece destaque o empresário Jorge Zanatta, pioneiro ao investir na indústria de plásticos, abrindo espaço para um segmento que se consolidaria nas décadas seguintes. Ao final dos anos 1970, Criciúma já era reconhecida como exemplo do espírito empreendedor catarinense.

Na década de 1980, o município entrou em nova fase, consolidando-se como polo nacional e internacional. Grandes empresas do setor cerâmico projetaram Criciúma no exterior, enquanto o setor têxtil continuava em expansão. Paralelamente, a construção civil, a metalurgia e a indústria de plásticos reforçavam a economia, dando maior equilíbrio à base produtiva da cidade.

Na década de 1990, Criciúma viveu um período de crise e transformação. A decisão do governo Collor, que determinou a interrupção da atividade carbonífera, levou ao fechamento de minas e ao desemprego em massa, provocando também um êxodo migratório para o exterior. Apesar do impacto, a cidade mostrou força de reinvenção: as cerâmicas se reinventaram, as confecções buscaram novos mercados.

A partir dos anos 2000, Criciúma consolidou-se como um polo regional diversificado. O setor cerâmico manteve a liderança com tecnologia e exportações, acompanhado pela força das indústrias de plásticos e descartáveis, química, metalmecânica e de confecções, que continuaram a gerar emprego e renda. Ao mesmo tempo, o comércio aquecido, a expansão do setor de serviços e o crescimento da construção civil reforçaram a posição da cidade como referência para toda a região Sul de Santa Catarina. Grandes redes de supermercados também se instalaram, ampliando o dinamismo econômico.

Nos últimos anos, inovação e tecnologia passaram a ter papel cada vez mais relevante, com startups e empresas de software surgindo ao lado de universidades e centros de pesquisa. A saúde também se destacou, com hospitais e clínicas de referência que atraem pacientes de diversas cidades. Dessa forma, Criciúma manteve viva sua vocação empreendedora, agora apoiada em uma economia moderna, diversificada e capaz de se reinventar diante dos desafios globais.

Fonte: Divulgação

Uma cidade em pleno desenvolvimento

O dinamismo industrial de Criciúma impulsionou um forte crescimento demográfico. De uma colônia fundada em 1880 por 141 imigrantes italianos, o município se transformou na 8ª cidade mais populosa de Santa Catarina, com 225.281 habitantes em 2024 (IBGE). A densidade demográfica de 913,26 hab/km² coloca Criciúma como a 4ª cidade mais densa do Estado, evidenciando seu caráter urbano, a infraestrutura consolidada e a diversidade de serviços.

A cidade possui um dos principais polos econômicos de Santa Catarina. O mercado de trabalho formal de Criciúma representa essa expansão. Em 2024, segundo dados do município, a cidade registrou mais de 79.182 postos de trabalho com carteira assinada, distribuídos da seguinte forma: Serviços: 44,62%, Indústria: 27,10%, Comércio: 22,99%, Construção Civil: 5,23% e Agropecuária: 0,06%

O gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra a estimativa da população criciumense durante as últimas décadas.

Criciúma celebra 100 anos de emancipação como um município forjado pelo trabalho. O legado dos imigrantes que levantaram engenhos e atafonas permanece vivo na cidade moderna, que continua a crescer, atrair investimentos e gerar oportunidades para novas gerações.

Criciúma emoldurada pelo horizonte. Registro feito do mirante Realdo Santos Guglielmi

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